A-cor-da consciência



















Eu nunca vi a consciência
Ela sempre sussurra no ouvido
E dá seu jeito de esgueirar-se
Rápida como um foguete
Silenciosa como gato


Mas seu sussurro ecoa


E soa


E permanece


Pode libertar ou amarrar
Tem poder para mover montes
Tem poder para mover mentes


A consciência não tem cor
Assim, pelo menos me disseram


A consciência não tinha cor
Foi um momento de deslize desvelador
De laço apanharam-na e a encararam


Caras pálidas escrutinaram a nudez cônscia
Não gostaram do que viram
Pintaram sua pele de todas as cores
As cores que não fossem a deles


Os olhos que não fossem os deles
Os cabelos que não fossem os deles
O nariz, as orelhas, o ser
O que não fosse deles,
Ensinaram a consciência a amarrar


Aqui no bairro onde moro
Ela anda desnuda e exposta
Aqui ela tem cor
Cor de terra escura
Corda que nos amarra e impõe


Té que, com os olhos de Zumbi
Olhamos a danada de soslaio
A capturamos com a corda
que ela mesma nos amarrava


A corda que nos prendia
Usamos pra subir no topo e gritar
“Acorda, consciência!”

Ela abriu os olhos


A corda ela soltou
“Acorda, consciência!” repetiu
A cor da consciência aqui no meu bairro é preta


Negra como breu

Preta como eu

- Jônathas Sant'Ana

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