Desculpe, mas você vai ter que me aturar




No último ano, postei um texto aqui no blog sobre como a experiência de primeiro ano no internato tornou mais óbvia para mim a realidade de que cada um tem sua história e essa história ajuda a moldar o comportamento das pessoas e isso deve fazer com que sejamos mais tolerantes e abertos às pessoas.
Neste início de segundo ano no internato, eu percebi outra coisa sobre relacionamentos e como lidar com as pessoas que talvez complemente o que eu disse anteriormente.
É muito raro eu não gostar de alguém, principalmente numa primeira impressão. Às vezes fico com preguiça das pessoas, é verdade, mas sempre escolho tentar ver o melhor em todos - e não estou me gabando disso, sério (até por que nem sempre sou bem sucedido). Mas não gostar mesmo, é algo raro.
E, ainda sem querer me gabar de nada, geralmente (nem sempre), a primeira leitura que faço das pessoas está correta.
Então, quando acontece de eu encontrar alguém de quem não gosto, faço questão de tentar me aproximar pra descobrir o que essa pessoa tem de melhor, e por mais que as minhas impressões iniciais se confirmem, geralmente consigo achar o que as pessoas têm de melhor.
Aqui no Unasp, isso nem sempre funciona. Há pessoas que não ajudam nessa tentativa.

No último ano, certa vez, uma dessas pessoas com quem eu não tinha ido com a cara, mas estava tentando me aproximar para descobrir o "lado bom", me disse na cara dura: "Pronto, pode falar comigo, eu sei que você precisa de atenção".
A vontade que eu tive foi de responder que na verdade, eu estava falando com essa pessoa por que eu não havia gostado dela e estava tentando desfazer o preconceito. Mas respirei fundo e sorri, disse o que tinha a dizer e saí, deixando a pessoa com um sorrisinho condescendente, que eu (posso estar errado) interpretei como "Fiz a boa ação do dia."

Por muitas vezes eu pensei que talvez fosse melhor simplesmente fazer como eu gostaria e mandar todo mundo às favas e cumprimentar e falar apenas com as pessoas que se mostram simpáticas comigo e demonstram gostar de mim.
Na verdade, eu flerto com essa ideia desde a minha adolescência, mas sempre me deparo com uma questão: por que eu teria que mudar meu jeito pra me adaptar a realidade dos outros?

Alguns podem pensar que isso é complexo de vira-lata, mas foi logo no início desse ano que percebi duas coisas:

1 - Sim, eu devo dar preferência aos meus amigos que sei que gostam de mim e fazem questão de demonstrar. É uma questão não só de reconhecimento dos outros, como de amor próprio (embora nem sempre eu consiga fazer isso aqui no Unasp, por diversas razões, e por isso peço desculpas a todos a quem não tenho tratado como merecem);

2 -  Nem por isso, devo  deixar de insistir nas amizades não tão recíprocas assim ou deixar de ser legal com as pessoas que eu não gosto ou que imagino que não gostam de mim.

E isso por que percebi que, quando você é insistentemente legal com as pessoas, você consegue sim extrair o melhor delas, ao invés do pior.
Várias pessoas me ensinaram isso. Não sei se por que sou um chato insistente ou se por que realmente demora para alguns se abrirem a outros, mas percebi que continuar sendo legal com pessoas que inicialmente não te toleram tanto assim, acaba fazendo com que elas mostrem o que elas tem de melhor.

Alguns amigos me questionam: "Como você consegue ser amigo de tal pessoa? Ela tem tal e tal defeitos, é alguém insuportável!"
A minha resposta é: "Sim, a pessoa tem tal e tal defeitos mesmo, assim como eu tenho tal e tal defeito, e desculpe dizer, você tem tal e tal defeito!".
Somos todos imperfeitos, todos fazemos coisas detestáveis, e nem por isso preciso me isolar do mundo por que ele é feito de pessoas chatas ou detestáveis.
Há muitos que querem parecer superiores, durões, fortões, ou mesmo os que gostam de ser chatos, sarcásticos e desagradáveis. Mas geralmente estes são os que mais precisam ser tratados de forma gentil. E quando o são, eles se desarmam e acabam mostrando o que tem de bom - e talvez nem eles saibam que tem isso dentro de si.

O processo inverso também acontece, é claro. Há muitos que no início são legais e Best Friends Forever, mas depois enjoam da nossa cara, ou por que descobrem coisas na gente das quais não gostam ou simplesmente por que sua aproximação inicial possuía um interesse escondido além da amizade. Não sei se conheço alguém assim e prefiro não ficar remoendo as teorias de quem possa ser.

Ao mesmo tempo, as vezes me sinto culpado por nem sempre valorizar quem eu sei que me valoriza, e se você que está lendo esse texto, sentiu que eu agi de tal forma com você, por favor me perdoe, e por favor, me deixe saber se estou sendo um bom amigo. Detesto fazer com que as pessoas sintam que não são queridas. E aqui é mais tenso, pois há várias pessoas que interagem com você, te cumprimentam, mas você acaba não lembrando muito delas, e isso as vezes faz com que sejamos os antipáticos, mas divago... O fato é que eu nem sempre cumpro com o que eu prometi a mim mesmo, mas me perdoe, eu sou humano.

De um jeito ou de outro, eu aprendi uma lição que talvez você também possa: ser legal com as pessoas chatas ou detestáveis, pode fazer com que elas se tornem legais e amáveis - e pode fazer também com que elas aprendam a não usar como drive thru quem é simpático com elas.
E tendo aprendido isso, vou citar Daniel Salles: "Olhe bem pra mim, se acostume comigo..."

"Vocês conhecem a antiga lei: 'Amem seus amigos' e seu complemento não escrito: 'Odeiem seus inimigos'. Quero redefinir isso. Digo que vocês devem amar os inimigos. Deixem que tirem o melhor de vocês, não o pior. Se alguém fizer mal a vocês, reajam com a força da oração, pois assim agirão do fundo do seu verdadeiro ser, do ser que Deus criou. É o que Deus faz. Ele dá o melhor - o Sol que aquece e a chuva que traz vida - a todos, sem distinção: os bons e os maus, os simpáticos e os antipáticos. Se tudo o que vocês fazem é amar apenas quem é amável, que recompensa esperam receber? Qualquer um pode fazer isso, Querem uma medalha por cumprimentar apenas os que são simpáticos com vocês? Qualquer pecador desqualificado age assim.
Resumindo, o que quero dizer é: cresçam! Vocês são súditos do Reino; tratem de viver como tais. Assumam sua identidade, criada por Deus. Sejam generosos uns para com os outros, pois Deus age assim com vocês". 
Mateus 5:43-48 (A Mensagem)



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